segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Machado ou Bressane, quem é a erva?


Recentemente passaram os meus olhos por dois contos e um filme.

Com vocês A causa secreta, Um esqueleto e a Erva do rato...


Os Contos, Machado e Bressane

O esqueleto, o marido e o rato (as personagens da foto) talvez sejam os únicos fragmentos concretos trazidos desses contos. O resto - como se houvesse resto para Bressane - é a essência machadiana de uma forma absurdamente ímpar.
Machado torna-se, além de presente, forte, podendo ser visto às sombras em cada imagem do filme, pois como em seus contos há uma força invisível naquilo que está fora de foco. Ele - tal qual Bressane - provoca-nos.Diferente de Brás Cubas (1985), a Erva do Rato não é uma adaptação é substancialmente Machado de Assis com as cores ou a ausência delas pelas lentes de Walter Carvalho.

Pode parecer que em tempos de O Divã e outras comédias, Bressane faz um filme para si próprio. Puro engano. Não, ele não está se lixando para nós. Deseja que (re) criemos nosso próprio filme. Ou levantemos da cadeira por pura preguiça.

O Filme

Apesar dos amantes mal se tocarem a temática central do filme é a obsessão sexual, tal qual a erva - daninha - brotando e crescendo quando e onde bem entende. Se lidos os contos Um Esqueleto (1875) e A Causa Secreta (1885), entendemos que Bressane só fica com o que lhe impulsiona, é ai que o roteiro ganha a força da erva, tem vida própria.
Morbidez e voyeurismo permeiam o relacionamento do casal interpretado por Selton Mello e Alessandra Negrini. E, com certeza, a escolha não poderia ser melhor. A voz marcante de Selton, bem como seu rosto, nos são capazes de levar do drama ao riso, do pesar ao terror... Alessandra - pessoa tão enigmática e - quase dissimulada quanto as mulheres machadianas "tem as formas e essências que nos remetem a vários desejos, questionamentos, ímpetos, sedes e fomes".

É o rato-invasor quem tumultua as regras deste par.

O rato, claro, simboliza a idéia de instinto e impulso sexual, mas ainda assim quando é morto, vemos simplesmente um rato agonizando. O que nos remete a outro plano: não se chega a nada, além dos ossos.
Quando a mulher, morta, mais nua que nunca, ainda é fotografada nas mesmas posições, o que se tem é “o” vazio cheio do antes. Entra em jogo o objeto versus percepção, deixando claro, mais uma vez o cinema – único - de Bressane.

O rato esta a salvo, garante o aviso após os créditos:"Nenhum animal foi maltratado ou exposto a riscos durante as gravações". Olho pros lados e percebo que esta foi a mais falsa idéia difundida em toda a fita. Impossível sair ileso e impune a Bressane.

Pobre ou felizes de nós (animal-homem) que amamos o cinema de vanguarda?

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