quarta-feira, 7 de outubro de 2009

ENSAIO SOBRE O ESCREVER

(Da coragem do se permitir)
Por Simone Costa

Escrever é mesmo um belo exercício. Exercita-se não só a criatividade, mas sobretudo o desprendimento e o desapego. Uma vez publicado, o texto, passa a pertencer ao leitor. E passa a caber a ele - e tão somente a ele - a análise, o entendimento, a absorção...

Quando mal escrito, um texto expressa o nada, o vazio absoluto.

Se bem feito, até o nada ganha forma e conteúdo.

Na aventura do escrever e quanto mais escreve, o autor percebe que a criatividade não é solitária nem soberana. Existe uma força estranha na criação de cada personagem, é como se ela ganhasse forma - de fato - desenhando-se aos poucos: personalidade, caráter e até mesmo contornos físicos, vão tendo vontade própria. É bem verdade que as lembranças, as histórias e as pessoas reais com as quais se convive ajudam a formatar tais personagens, afinal o único autor que criou do nada foi Deus, mas elas se mostram e se revelam misturadas, porque "as pessoas são muito ilusórias e vagas para serem copiadas", como bem disse o romancista.(1)

Escrever não é preciso e, talvez seja mais incerto que viver.

Se por um lado escrever nos dá um ligeiro poder, por outro há de se conviver com frustrações como não ser contemplado com um prêmio tão desejado e sonhado, ser rejeitado por um editor ou ainda não conseguir "vender" a sua melhor idéia.

As críticas não se enquadram no universo da frustração, são em si reconhecimentos, e se bem vistas e bem usadas servem de exercício para o aprimoramento. Pior que ser criticado é não ser lido. É como falar para ninguém.

Escrever é um belo exercício e quando se tem a oportunidade de se escrever sobre o escrever, exercita-se mais que a criatividade, o desapego ou o desprendimento. Exercita-se o autodescobrimento, a impermanência, o vazio transbordante, a autocritica...

Engana-se quem pensa que escrever é fácil. Principalmente para quem sabe, escrever é quase que autodestrutivo. Porque, ou o autor será julgado (de uma forma ou de outra) bem ou mal ou simplesmente será ignorado.

Escrever: Não há nada mais contemporâneo e globalizado que nos remeta à antiguidade, onde estando em evidência um indivíduo era levado à forca, ao Panteão ou a masmorra solitária.
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Nota 1 - Érico Verissímo - artigo Como nasce uma personagem, publicado em 1950 na Revista do Globo e posteriormente no livro Fantoches e outros contos e artigos - Editora Globo 1956

Um comentário:

  1. Gostei muito do texto e da forma como colocou a escrita, escrever realmente é algo que ultrapassa várias barreiras até mesmo a do auto-conhecimento, o mais interessante da escrita é o pensamento sem limites, quando o artista esta na frente do papel ele pode criar o mundo e nesse momento o escritor torna-se uma especie de Deus.

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